domingo, 2 de dezembro de 2012

O INHAMBU

                                                                         

  
 INHAMBU



                                                     O INHAMBU


          O Inhambu, conhecido ainda no Brasil pelos nomes populares: pé-roxo, bico-de-lacre, chitão ou chororó; e em inglês "Tataupa tinamou", é uma ave pequena, de ampla distribuição geográfica no Brasil (habitando o nordeste, centro-oeste, sudeste e sul), Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina. Seu canto consiste numa sequência de notas rápidas e descendentes. 
        O meu avô tinha um “pio de inhambu” que era usado para atrair o pássaro. Fiquei com essa herança quando ele morreu. O pio é meu. 
        Outro dia, revendo alguns objetos guardados me deparei com ele. Pensei que, na minha lembrança, o meu avô nunca tinha usado o tal piado para pegar nenhum pássaro, mas tinha sim, usado mais de uma vez para nos mostrar, ao meu irmão e a mim, como o tal inhambu fazia.
        Saímos certa vez a cavalo lá no sítio que tínhamos e fomos “piar inhambu”. Ficamos escondidos atrás de uns matos e árvores para ver o pássaro. Meu avô usou o pio e ficamos esperando aparecer a avezinha. Eu, bem criança ainda, não tinha nenhuma noção como era o tal pássaro e fiquei lá esperando que ele aparecesse. E ele apareceu. Só que eu não consegui vê-lo. Meu avô me mostrava meu irmão também, mas cadê que eu via?
       -“Não estou vendo”, dizia.
       -“Olha ele lá!” meu avô apontava.
       -“Onde?”
       -“Lá”, meu irmão falava.
       O fato é que ficamos lá até o pássaro ir embora e eu, ainda assim, não consegui vê-lo.
      Falei para o meu avô que não tinha visto o tal do inhambu. Depois de muito tempo, quando já era maior, consegui entender porque não o tinha visto. Eu estava esperando um pássaro grande, enorme. Algo assim do tamanho de um galo, de um peru, sei lá.... Como aquela criança ia ver um pássaro tão miudinho? Ninguém tinha falado que era pequeno! E na minha imaginação (que não era pequena) ele era muito importante, um bichão que precisava de uma ferramenta específica para atraí-lo, aquele pio de madeira, que meu avô vivia soprando ou imitando com um assobio. Nunca mais esqueci esse som. Posso fechar os olhos e imaginar meu avô que escutarei o piado do inhambu. Não sei tão pouco se algum dia capturou um dos bichinhos os quais “piava”. Não sei o porquê daquela atração que ele tinha pela ave. Talvez fosse uma lembrança da época em que era tropeiro e andava por esses caminhos, livres de civilização, onde os pássaros podiam voar livremente, só temendo um “tropeiro piador” qualquer. 
    O fato é que até hoje nunca vi um Inhambu pessoalmente, somente através de fotos e talvez nunca o veja, mas com certeza ele existe nas minhas lembranças infantis e faz parte de mais uma, de tantas histórias que vivi com o meu avô Ibrahim .
    Saudades de um tempo tão livre, tão inocente, onde pássaros grandes ou pequenos, onças inexistentes e o outras fantasias faziam parte de uma infância sem complicações, regadas por grandes afetos e certezas absolutas em relação ao futuro que teríamos.


                                   
                                                  O Pio de "piar inhambu"





                                             Eu e meu irmão Elias Jorge




                                                    
                             Meu irmão, meu avô, meu pai e eu



Para conhecer ou lembrar do  canto do Inhambu click sobre o amarelo.