HERANÇAS
DE MEU PAI
Meu pai me deixou muitas heranças.
Considero-as todas e de uma forma muito carinhosa.
Ele deixou uma casa para todos nós que
procuro conservar e melhorar para nosso conforto, mas também em memória a ele
que a conseguiu com esforço e com orgulho. Deixou também sua coleção de revista
“Globo Rural”. Mas para mim, exclusivamente ele deixou mais algumas coisas.
Tem velório de alguma pessoa conhecida? Eu vou!
Fiquei também responsável pelo túmulo da família. Compro a tinta,
procuro um pedreiro e mando pintar na época de Finados. Tem recadastramento de
túmulos? Eu faço. Parece macabro? Não é!
É engraçado! Brinco dizendo que são heranças que meu pai deixou para
mim. Tem muitas outras, como o interesse pela política,a necessidade de afastar os copos ou garrafas das beiradas das
mesas, para não derrubar, comer torradas queimadas, gostar de pimenta e limão, comer
o que for colocado à mesa, tentar não ficar com raiva das pessoas, gostar de
crianças, gostar de conversar com diferentes pessoas, a vontade de estar sempre
pronta para ajudar a quem solicitar, dar prioridades a coisas que não sejam
materiais, entender que “cada um com a sua sorte” não sendo necessário invejar
quem tem mais...
Meu pai também deixou sua moral reta. Seu
caráter firme e honesto. A certeza de que as pessoas devem ser respeitadas, a
disponibilidade afetiva, o coração sempre pronto ao carinho, a leveza com que
via e vivia a vida, a alegria sempre presente, a adaptação a todas as situações
que lhe eram apresentadas, a adequação ao viver. Desejo fazer a minha vida tão
leve, apesar de alguns fardos que carregou, como ele fez a dele. Desejo sempre
sua alegria e de seu bem estar perante o viver. Essas heranças ainda tento que
sejam minhas também, mas nem mesmo sei se posso consegui-las integralmente.
Eram propriedades dele, exclusivamente dele. Dando sorte, talvez, à medida que
passem os anos, possa conseguir algumas delas e averbá-las ao meu acervo.
Desejo conseguir que essa
herança chegue a mim. Quero ser como ele quando crescer!