domingo, 16 de agosto de 2015

NAQUELA MESA ESTÃO FALTANDO ELES


NAQUELA MESA ESTÃO FALTANDO ELES

   Uma mesa na casa, uma mesa na copa, uma mesa que conta histórias, várias mesas em uma só...
   Na verdade várias mesas passaram pelo mesmo espaço, mas o que ficou foi a lembrança de pessoas naquele espaço.
   A cozinha sempre foi o lugar preferido para reuniões familiares. Nesse caso, a copa, que é conjugada à cozinha. Naquele espaço delimitado por uma mesa se juntavam pais e filhos, tios e sobrinhos, avós e netos, primos de várias idades, comidas, bebidas e boa música cantada pelos meus tios e pela minha mãe. Surgiam histórias da vida de meu avô, histórias de família, piadas contadas pelo meu tio Luiz, fofocas, brincadeiras e até umas brigas de vez em quando, mas que sempre acabavam em risadas. Era um espaço em que havia xingamentos, alegrias, risadas, lágrimas. Sempre um misto de sentimentos e emoções que parecia  “sui generis” para quem não nos conhecia.
   Ali crescemos, esperando essas reuniões, e crianças ainda, não arredávamos pé dali. Os adultos permitiam que participássemos, que estivéssemos sempre juntos, legando para nós, crianças, suas lembranças e histórias. Muitas se perderam na nossa memória infantil, mas muitas ainda hoje recordamos. São lembranças vivas, são histórias recordadas com carinho, com graça, com risadas. Meu avô contava fatos de seu passado, os quais nem mesmo sei se são verdadeiros. Creio que a maioria eram reais, talvez exagerados, mas aconteceram. A vida de meu avô foi rica em experiências e aventuras e em muitas delas levou junto a família: mulher, filhos e agregados. Era engraçado ouvir as aventuras dele e de meus tios. Ouvíamos falar de um lugar chamado Abre-Campo, conhecemos através de histórias, muitas personagens. Havia um homem ímpar chamado Augusto Pelado, sem muitos detalhes soubemos que existia um “seu” Otávio, dono da fazenda que meus avós moraram em Abre-Campo, descobrimos que a minha avó sabia atirar e que nessa fazenda em Abre-Campo matou um gambá, aprendemos que a música preferida de meu avô chamava-se Laura (talvez uma paixão do passado?!), que ele pedia sempre para os filhos cantarem, e ficamos conhecendo tantos outros personagens que povoaram nossa imaginação. Nenhuma brincadeira nos dava mais prazer.
   Mas agora faltam muitos deles. Meu avô, minha avó, dois dos tios e meu pai se foram. Estão só na nossa lembrança. A mesa continua lá no mesmo espaço, mas as reuniões não mais acontecem. Não tem mais aquela alegria, aquela balburdia, aquele falatório. A energia boa ficou, mas em silêncio, sem pessoas. Então quando olhamos aquela mesa pensamos; estão faltando eles! Que lástima! Que saudade! Mas que bom que tivemos essa oportunidade! Que bom que pudemos conviver nesse espaço, nessa mesa tão harmônica, tão feliz! Que bom foi internalizar, absorver a nossa família! Que bom fazer parte desse prazer! Lembranças que carregaremos para sempre!

 

Esta é a letra de Laura

 

Laura

BRAGUINHA

Um vale em flor, a fonte,
O rio cantando
O sol banhando a estrada,
Frases de amor
Laura,
Um sorriso de criança
Laura,
Nos cabelos uma flor
Ô Laura,
Como é linda a vida!
Ô Laura,
 
Como é grande o amor!
Depois o adeus, o lenço,
A estrada, a distância,
O asfalto, a noite, o bar,
As taças de dor
Laura,
Que é da rosa dos cabelos
Laura,
 
Que é do vale sempre em flor
Ô Laura,
Que é do teu sorriso
Ô Laura,
Que é do nosso amor



sábado, 18 de julho de 2015

QUEM ERA TIO JORGE


QUEM ERA TIO JORGE?

   Quem era tio Jorge?
   Irmão de meu avô Elias, que ajudou a minha avó acabar de criar seus filhos depois do falecimento de seu marido.
   Era sócio de meu avô no comércio que tinham e dizem que por não saber ler e nem escrever não puderam continuar com a firma depois que meu avô morreu. Não ficou claro se não sabia ler e escrever só em português ou se em árabe também.
   Como era ele? Segundo informações de meu pai era de ter rompantes, não tinha muita paciência e fazia as coisas de um modo meio abrutalhado. Meu avô materno o conheceu e contava que ele era briguento. Trabalhava em um comércio local e brigava com o proprietário sempre que podia. Fazia propaganda negativa dos produtos e pela informação, era uma figura engraçada. Quando tinha manga para vender falava para o freguês; “Não leva não. Manga azeda!!” Com os cobertores não era diferente: “Figueiredo dorme com essas cobertas e depois vende aqui!” Tudo isso falado com aquele sotaque de árabe! Outra curiosidade sobre o seu comportamento era que ao ver um pedaço de pão jogado pelo chão, o pegava, fazia o gesto de um beijo e o colocava encostado em algum lugar, demonstrando um grande respeito por aquele alimento que era o pão.
   Não temos muitas informações, não temos fotos, sabemos que tinha cabelo ruivo,  como era o dos sobrinhos Demétrio, Tuphy e Benjamin e Adma, sabemos que ajudou muito contribuindo para o crescimento de seus sobrinhos. Muitos, da geração mais nova, nem sabem da existência desse tio que tanto ajudou aos nossos ascendentes! Injusto com ele e com nosso avô!
   Tio Jorge sempre foi um nome muito lembrado por meu pai que estava sempre contando alguma coisa sobre ele. Sei que sentia um carinho especial por aquele tio, que de certa forma ficou no lugar de pai.
   Devemos também ao querido  Tio Jorge a formação do caráter firme e honesto que meu pai e seus irmãos e irmãs. Com seu jeito rude soube transmitir retidão e mostrar um caminho simples, porém digno que todos seguiram sem esforço!
   Viva Tio Jorge!!!!! Beijos carinhosos Tio Jorge!!!!!