SAUDADES DE LUGARES QUE NUNCA FUI
Sinto saudades de lugares que nunca fui; de
estradas pelas quais nunca passei; de pessoas que nunca conheci! Como isso é
possível? Não sei! Mas é assim!
São estradinhas que não sei para onde vão,
mas que parece que já andei por ali e então sinto uma saudade doída. São
casinhas simples na beira das estradas que doem o peito quando olho para elas,
são pessoas que imagino que estarão no final daquele caminho, muitas vezes de
terra batida, ou dentro daquela casa pelas quais sinto uma ternura imensa.
Nunca andei verdadeiramente por esses caminhos, mas me vejo ali, cavalgando ou
somente caminhando sozinha, em paz, com prazer! Para onde estarei indo? O que
encontrarei no final? Não sei!
Quando era criança e passava por alguma
casinha pequena, humilde onde só tinha uma janela e uma porta na frente,
desejava morar ali. Achava que devia ser muito bom e a achava linda! Não me
lembro de comentar isso com ninguém! Nem adulto e nem criança. Era um
sentimento só meu; muito particular. Um segredo, eu acho! Talvez as outras
pessoas julgassem uma coisa boba ou maluca. Não falava, ninguém sabia!
Parecia que ali dentro tinha alguma coisa
especial. Talvez fossem recordações escondidas da casa da D. Anita, que morava
perto do nosso sítio e que tinha uma casinha pequenininha de chão batido, mas
que era tão especial que chegava brilhar como se fosse encerado. Não sei!
Talvez!
Talvez fosse apenas curiosidade sobre o que
teria atrás daquela portinha, ou fosse minha imaginação, que era grande,
trabalhando com afinco para ver através das paredes. Mas talvez fosse só mesmo
um sentimento de pertencimento, de reconhecimento ou de saber que ali, naquela
casinha com uma janela só poderia ter uma vida cheia de janelas e portas com
muitos sentimentos escondidos.
Muitas vezes me imaginei abrindo aquelas
portinhas e entrando naquelas casas, muitas vezes me imaginei continuando a
caminhar por aquelas estradinhas ou a cavalgar por aqueles pastos sem saber
onde iria parar. Um sentimento tão constante que ainda hoje sei como é. Recordo
com todas as nuances essas imagens. Ainda hoje em viagens, olhando pelas
estradas, me vêm esses pensamentos e me recordo de como me sentia e então outra
vez sinto aquela saudade de pessoas e lugares que nunca vi.
