Venho de uma família de imigrantes, por um lado suíço, por outro libanês. Meu lado libanês tem mais informações por serem os imigrantes meus avós paternos; já no de origem suíça, a informação está muito longe e se perdeu pelo caminho. Mas o fato me faz pensar que paixão, desespero ou esperança fez com que largassem tudo para trás para se aventurarem em um país estrangeiro, diferente em idioma e cultura e com a certeza de que, talvez nunca retornassem ao país de origem, onde estavam plantadas suas raízes. Faz-se isso muito hoje em dia, porém os tempos são outros, a comunicação é mais fácil e a facilidade de transporte também. Quando meus avós paternos vieram para cá, foi de navio e quanto tempo não devem ter levado até chegar ao destino esperado?
Meu avô veio primeiro, deixando a esposa para vir depois. Não sei se chegou ao porto do Rio de Janeiro ou se em Santos, o fato é que, com coragem, embrenhou-se pelos caminhos da vida e chegou a uma pequena cidade do interior do Estado do Rio, para onde mandou que viesse sua esposa, chegando também sem nada conhecer ou saber dessa cultura tão diferente. Aqui plantaram seus pés e reconstruíram suas vidas com a chegada dos filhos que cresceram e ficaram para sempre, sem ao menos aprender a língua de seus pais. Meu avô faleceu deixando minha avó com um comércio para gerir e filhos pequenos para criar. O comércio acabou, os filhos cresceram e apesar de não ter tido o grande prazer de conhecer a figura generosa, cativante e afetuosa que era a minha avó, fico imaginando os medos, as saudades ou até quem sabe, arrependimento de ter abandonado tudo, sabendo que sua família tinha uma situação financeira razoável no Líbano, para levar uma vida que não foi muito fácil em um país estranho. O que se passava no coração desta mulher que corajosamente continuou sua jornada e, ao que tudo indica, nunca demonstrou o medo ou a tristeza que porventura pudesse sentir? E como ensinou tão bem a seus filhos o que era o amor pela família e por todo ser humano... Sim, porque todos os seus filhos, sem exceção, foram figuras humanas, afetuosas e afetivas, justas e principalmente felizes, com um amor sem tamanho pelas famílias que constituíram e amigos que elegeram.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
terça-feira, 6 de maio de 2008
O BARRACÃO

Aqui está Assma, irmã de meu pai, mas para nós era a Mamãe "A", a dona e senhora do Barracão.
Barracão era o modo carinhoso como era chamado o apartamento dos meus tios em Ipanema. Ficava na esquina da Aníbal de Mendonça com a Visconde de Pirajá, com o Armarinho Barcellos em baixo. Nossa!!!!! Como era mágico!!!!! Lembro-me de cada detalhe daquele apartamento, de cada cômodo, de cada fato que presenciei e de cada aventura que vivi. Até o banheiro de empregada tinha seu encanto e era um grande encanto! Eu o adorava, com suas revistas antigas ( tinha até revista em árabe!) com o seu piso de pastilhinhas brancas... .Até o cheiro daquele apartamento era diferente e só característico dele. O leite era delicioso, o pão tão diferente e os almoços eram especiais. Tínhamos um caminho secreto que nos levava do apartamento para o armarinho sem passar pela rua. Era o máximo! E que coisa interessante era jogar o lixo embrulhado em jornal na lixeira! Ficávamos esperando o barulho que ia fazer quando batesse lá em baixo. E os carnavais então?! Era um mundo encantado para mim. Olhando da janela ou passeando pelas ruas vendo todas aquelas crianças fantasiadas e eu também desejando uma daquelas, mas nunca pedindo a minha mãe. O Armarinho era do meu tio, casado com a irmã de meu pai e ele era lindo com tantas máscaras penduradas, sacos de confetes, rolos de serpentinas com uma magia e um encanto que nunca mais senti igual, talvez parecido, mas igual, nunca! Iamos à praia, ao cinema, mas nada se comparava ao que eu sentia ali dentro do apartamento. Ficava esperando com ansiedade o dia em que iríamos para a casa da “Mamãe A” e do “Papai A”, que era como os chamávamos, para passar uma parte das férias. E que férias sempre foram aquelas!!! Quando eles venderam o apartamento para irem para um outro maior, logo ali na Visconde de Pirajá, fiquei com muita pena. Ele era maior e mais bonito, mas não tinha o mesmo encanto, o encanto que ficou lá naquela esquina!
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