DOCES
COMUNISTAS
A família Hamam tem a crença de que é política
e sempre acreditou que era da “esquerda”. Conta a lenda que alguns parentes do
meu pai, lá no Líbano, eram tantas vezes presos por serem contra o governo
atuante, que não desfaziam a malinha que levavam para a prisão. Não sei se é
verdade, mas dá a dimensão histórica do compromisso da família com a política.
Como todos os meus tios já nasceram aqui no
Brasil, eles só conheciam a lenda e de um modo ou de outro se colocaram em
contato com a política. Eram Comunistas! Sendo comunistas lutaram contra a
ditadura. Meu tio Demétrio era atuante e foi até deputado. Foi preso durante a
ditadura de Getúlio Vargas, indo para um navio em auto-mar, foi amigo de
Graciliano Ramos e de muitos outros intelectuais comunistas. Meu pai lutou a
favor do Petróleo, fez parte da campanha ” O PETRÓLEO É NOSSO”, foi também
preso por causa disso e sorte a dele o irmão Uady (que não se envolvia com a
política) ser da Secretaria de Segurança e livrá-lo algumas vezes.
E assim crescemos: Meus primos que eram
mais velhos se envolveram também na época da ditadura militar. Meu primo
estudava em Ouro Preto e foi preso por causa de sua ideologia, como muitos
estudantes. Minha prima, sua irmã, fugiu uma vez do Rio para Itaperuna, para se
livrar da perseguição. Eu era criança e achei o máximo! Eu, quando comecei a
entender certas coisas, também me encantei, talvez pela influência de meu pai,
com o qual conversava muito e era o meu herói.
Todos comunistas, todos de esquerda! Será?
Eram sim. Comunistas que lutavam pela liberdade! Liberdade comunista? Lutavam
pelo idealismo! Isso! Idealismo. Assim eram meus tios, meu pai, meus primos!
Assim pensei que eu fosse! Mas como comunistas? Doces, inocentes e puros na sua
crença! Não existem mais e acho que nunca existiram como eles. Meu pai dizia;
“- Os fins justificam os meios”. Grande máxima comunista! Nada! Não achava isso de jeito nenhum!
Repito: Doce, ético... Assim como meus primos! Acreditavam em um mundo melhor, com mais
igualdade, sem discrepâncias sociais, imagem romântica que todos tínhamos do
comunismo ou do que se pensava ser o comunismo.
Doces comunistas românticos! Assim eram
eles! Assim éramos nós!