Hoje é dia do meu aniversário, dia 25 de maio, e recebi uma visita no meu local de trabalho. Certa vez escrevi que um ditado árabe diz que as almas estão nas asas de uma borboleta. Acho que é verdade!
Uma borboleta enorme e linda entrou em minha sala, sobrevoou por todos os espaços e em volta de mim várias vezes. Quem sabe é o meu pai que veio me visitar neste dia? Senti que sim, senti uma ternura e um carinho grande por aquele bichinho que parou quietinho pousado em um lugar da sala e lá ficou me fazendo companhia. Ficou comigo! Não saiu mais dali.
Por que não pode ser?Os orientais têm uma sabedoria milenar, de algum lugar isso foi tirado, e com certeza tinham uma crença muito grande em relação a isto. É muito bom pensar que ele está aqui comigo, olhando por mim e me trazendo energias positivas. Senti uma emoção muito grande quando esta borboleta voejou em volta de mim tantas vezes como se quisesse me beijar, acariciar-me, abençoar-me. Senti-me abençoada, tranqüila e em paz. Lembrei-me dele imediatamente. Sempre sou inspirada por ele, pretendo conseguir ser um pouco como foi. Tranquilo, de bem com a vida e de um coração grande e bondoso como poucos seres humanos conseguem. Raiva, ódio, essas palavras e sentimentos não faziam parte de seu vocabulário.
O fato é que senti necessidade de comunicar, de alguma forma, essa visita inesperada e bem - vinda e nada melhor do que a escrita para isso. Palavras falam por si sós. Sensações também.
Depois veio a moça da limpeza e ela se escondeu. Não a vi. Depois a percebi voando novamente dentro da sala: para lá e para cá e depois se foi pela porta, assustada com uma pessoa estranha que não se sabia o que ia lhe fazer.
Fiquei com pena de que ela tivesse ido, mas não triste, porque se foi livre e suavemente pela porta pela qual entrou e me deixou com uma sensação muito boa!
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
EGOÍSMO EMOCIONAL
Escrever sobre o que hoje? Sobre a incapacidade das pessoas de perceberem sentimentos e de não enxergarem necessidades alheias? Sobre a insensibilidade de lidarem com as pessoas que já viveram tanto e que carecem de atenção diária? Escrever sobre a crueldade do egoísmo? O que é o egoísmo? Como as pessoas o percebem? Não estou falando do egoísmo material (este vemos facilmente), mas do egoísmo sentimental. Sentimentos que não são compartilhados, que não são dados, que são apenas exclusivos de alguns. Porque é tão difícil perceber a necessidade do outro? Porque só percebemos as nossas necessidades e carências? Como não entender a dinâmica emocional conforme a idade? Cada época da vida, dinâmica emocional e afetiva diferente. Filhos magoam pais, netos magoam avós e nem percebem ou não querem perceber. Aí está o egoísmo! Quando passamos a viver pelos nossos sentimentos (alegrias ou tristezas) e não percebemos os dos outros. Quando não paramos mais para refletir do que aqueles que são meus, precisam. Sejam filhos ou pais, netos ou avós, em algum momento vamos magoá-los e não vamos perceber, vamos nos fazer de inocentes e de cumpridores de nossos deveres. Mas não. Não o somos. Sabemos o que precisamos fazer e não fazemos. Por quê? Acomodação, preguiça ou só negligência? Ou talvez só insensibilidade ou falta de percepção.Ah! Mais uma vez voltamos ao egoísmo. Falta de percepção. Este é o grande ponto do egoísmo sentimental. Não percebermos. Não percebermos nunca o que está estampado, o que está gritante. O que fazer para mudar? Para miopia tem recurso. Para egoísmo também. É só olhar mais, refletir mais e sentir mais. Não dói. Sentir não dói. Dói é não sentir e magoar. Acumular mágoas é terrivelmente doloroso e dolorido. Tão pouco pode ser feito para muito se sentir. Tão pouco pode ser feito para muito agradar. Tão pouco pode ser feito para muito ser feito!
sábado, 18 de julho de 2009
EU E MEU AVÔ
Eu e meu avô éramos uma dupla imbatível. Vivemos juntos travessuras que uma criança e um avô criativo podem aprontar.
Passeávamos juntos todos os dias e foi com ele que aprendi a fazer contas, o que não achava nada chato, já que fazíamos isto através das placas das casas pela quais passávamos nos nossos passeios matinais. Com ele aprendi a gostar de desafios mentais e de cartas enigmáticas. Acho que devo a essa convivência o fato de gostar e –modéstia à parte- trabalhar bem com crianças e principalmente a necessidade que acho de se proteger pessoas idosas e o carinho que elas me transmitem.
Era uma vida leve que não sei se atribuo ao fato de ser criança, à convivência com uma pessoa inteligente e de bem com a vida ou se aos dois juntos. A verdade é que ninguém poderia ter um avô melhor e mais rico em imaginação do que eu.
Aprendi a andar a cavalo, a ver formas variadas nas nuvens, a ficar deitada observando o céu e aprendi que não precisa de muitas coisas para fazer uma criança feliz: um carretel para virar carrinho, um pedaço de bambu para se transformar numa espingardinha cuja munição eram caroços de milho ou feijão, umas histórias cheias de mistérios ou algumas vezes com fatos macabros, mas essas só valiam se contadas à noite.
Meu avô era um homem crítico, que em tudo via graça e não deixava passar nada que lhe chamasse a atenção, principalmente se fosse um fato que pudesse deixar a pessoa sem graça. Era também muito inteligente. Estava sempre inventando alguma coisa ou em idéias ou objetos.
No sítio que tínhamos explorávamos todos os espaços a pé ou a cavalo. Fazíamos sandálias de palha de bananeira, imaginávamos tantas coisas e entre elas uma onça morando e nos espreitando no meio de meia dúzia de árvores que tinha em um morrinho chegando perto da casa do sítio. Só sei que eu por ali passava morrendo de medo de a onça pular em cima de mim e, enquanto andava, não tirava os olhos de lá esperando pela pintada e pronta para correr.
Ele adorava ler livros que falassem de curiosidades e passou isso para mim também. Quem descobrisse alguma curiosidade nova contava para o outro. Foi assim que fiquei sabendo que as lagartixas chegaram ao Brasil através do navios negreiros. E assim íamos levando a vida todos os dias.
Uma coisa o aborrecia muito quando fui crescendo. Não gostava de me ver conversando com nenhum menino. Não falava nada, mas ficava sem falar comigo durante alguns dias.
Foi assim até o dia em que saí de casa para estudar. Ele não me quis ver sair, então saiu antes e foi para a casa de meu tio, só voltando depois que eu já havia ido. Nunca falou nada, mas acho que ele não concordou com essa minha saída.
Existem pessoas indescritíveis e assim era meu avô. Jamais farei justiça à pessoa que ele era através da escrita.
Tantas coisas boas vivemos que não cabem no papel, ficam só na lembrança e na saudade de uma vida tão boa e tão cheia de carinho e riquezas de idéias.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
TABULEIRO DE AREIA

Vejo a vida de um modo muito particular. Ela é vista de modo concreto, sempre gerando uma imagem para visualizá-la. É assim como um tabuleiro de areia onde existem bonequinhos de papel (como aqueles que as meninas vestem e despem com suas roupas de papel) encaixados. Eles são tirados de um lado para outro, trocados de lugar e é assim com as pessoas quando se mudam, quando se locomovem, quando vão e vem do trabalho ou do passeio. É assim também quando morremos. Os bonequinhos são retirados e os espaços ficam vazios, mas sempre lembrando que ali havia uma figura, mesmo que aquele espaço seja preenchido. Existem espaços que não são nunca preenchidos novamente, ou por falta de oportunidade ou por falta de bonecos que se encaixem ali. Existem bonecos grandes e pequenos, mais coloridos ou menos coloridos, mais firmes ou menos firmes. Quem os tira ou muda de lugar não sei, mas vejo uma mão como se fosse a mão de uma criança brincando de bonecos. Tira ou põe como achar melhor, como ficar mais bonito ou como para aplacar um capricho. A areia é aquela como as das construções: areia lavada (acho que é assim que se chama) e um pouco grossa. Não é fatalismo achar que não temos escolha, é só uma representação visual, lúdica ou quem sabe infantil, porém é assim que visualizo sempre que alguém se muda, quando estou indo trabalhar ou quando alguém morre. A imagem fica mais nítida quando os olhos se fecham. Aí, sim, torna-se quase palpável. Entretanto é só uma brincadeira de quem sempre visualiza fatos e notícias de modo particular. Talvez seja mais fácil assim aceitarmos e entendermos tantas coisas que ocorrem no nosso dia-a-dia, talvez assim seja mais fácil ser feliz.
A TRISTEZA

A tristeza (ou seria melancolia?) é um sentimento ímpar e inexplicável através das palavras. É uma coisa doída, profunda e acho que estranha.
Que caminho é esse percorrido pela tristeza que nos deixa tão arrasados e tão sem defesas?
Que sentimento é esse que nos deixa com uma dor profunda? Não se sabe onde a dor dói, mas parece que é no peito, parecendo deixá-lo expandido e o coração grande, sem ar, sem perspectiva, sem vida.
Que dor profunda é essa que vem com rapidez e se vai tão devagar? Mais uma vez pergunto? Que caminho percorre, de onde vem, para onde vai? Será que fica escondida para reaparecer na primeira oportunidade? Por que existem pessoas que parecem que nunca ficam tristes? A origem é orgânica,mas é também da vida que elas levam? Como encaram as adversidades, procurando ver o lado positivo?Porém, quando é difícil perceber os pontos positivos? Sim, porque parece que para algumas pessoas tudo vai desmoronar toda vez que estão em calmaria e aí lá vem ela, maltratando, machucando, fazendo-se valer. Às vezes ela se confunde com insegurança,com medo ou com a dependência das situações às quais está relacionada. Mas é sempre doída e funda.
Às vezes parece bobagem, às vezes parece tão sério! Às vezes vai-se rápido, às vezes demora em ir-se. Porém é sempre ela, encorpada ou sem sustância, grande ou pequena.
Entretanto o melhor momento é quando ela se cansa de nós e se vai.Ah! Que alívio, que leveza e que grande amor sentimos por tudo e por todos! Aí, sim! Valeu a pena! Ela se foi! Tomara que não volte mais, pensamos então! Tomara que tome outro rumo e que vá para outras paragens. Agora ela parece apenas um vulto, uma figura etérea que se esvoaça pelo tempo e pelo espaço. Parece até mesmo que não passou de um sonho, todavia sabemos também que precisamos dela às vezes para continuarmos vivendo, lutando, chorando para que depois tenhamos o grande prazer do sorriso, do alívio e do conforto. Sabemos que um dia voltará de alguma forma, mas temos certeza de que também, de alguma forma ou por alguém, ela se irá e mais uma vez voltaremos para os nossos risos e nossos amores.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
AS ALMAS NAS ASAS DAS BORBOLETAS

Dizem que a alma de quem morre está nas asas das borboletas, que voam livremente e são tão coloridas, leves e lindas. Mas porque será que está cada vez mais raro ver uma borboleta?Onde estarão as almas? E as borboletas?
Tão prazeroso ver uma borboleta voando fazendo zigue-zagues pelo espaço, parece mesmo uma alma flutuando na plenitude de sua liberdade. Liberdade de tempo, espaço e massa, liberdade de compromissos, de rotinas, de decepções e de dificuldades. Leve como uma partícula de poeira ou uma pluma ao vento. Onde estarão as borboletas ? E as almas, então?
Terão escolhido outro meio de flanar livremente ou simplesmente não estão mais em lugar algum? A idéia de que possam evoluir livres e leves nos é tão bem-vinda que é difícil aceitar que elas não estejam mais por aqui.Tanto borboletas como almas. Onde será o lugar em que borboletas e almas estarão? Onde podemos vê-las tão plenamente?
Como serão as borboletas que levam as almas?Serão todas ou só algumas privilegiadas? Se assim for, então está explicado porque elas estão tão raras, mas se assim não for, se as almas não escolhem determinadas borboletas,então,temos que descobrir onde estão as borboletas. E as almas? O que escolheram para flanar? Não. Prefiro pensar que elas estão só esperando as lindas e leves borboletas e que elas, as borboletas, estão sim, por aí, porém nossos olhos é que se desacostumaram de vê-las e aí elas parecem não existir. Mas não, elas estão aí sim, com certeza estão. Elas existem assim, como tenho certeza, as almas também existem. Temos que acostumar novamente os nossos olhos a verem a beleza, a leveza e a plenitude. Aí sim estaremos aptos a ver de novo as borboletas e- quem sabe?- as almas também.
terça-feira, 14 de julho de 2009
TIO UADY
Uady significa rio que acaba no deserto e acho que foi assim a vida do meu tio Uady, irmão de meu pai.
Lembro bem que era um homem moreno, de olhos claros, que deveria ter sido um belo rapaz quando jovem.
Não tivemos relacionamento estreito, mas recordo bem a figura humana a quem pretendo ser fiel.
Era um homem ímpar, sem similar, assim como todos os irmãos de meu pai e ele próprio. É uma característica familiar, cada um com seu jeito, mas ímpares, sem nenhuma pessoa semelhante.
Uma pessoa tão pura de coração e tão inocente em determinadas ocasiões que dele se aproveitaram muitos. Eu achava muito engraçado quando dizia que tomava porre de guaraná.Era um funcionário público característico, sem ambições e cumprindo incondicionalmente seus deveres na função que exercia e sempre ocupando a mesma mesa durante anos a fio e com a qual ajudou a manter a família. Enquanto moravam na mesma casa tinham uma empregada de nome Ana que tomava conta de tudo que se referia à parte doméstica de um lar, já que não tinha mais a figura de sua mãe.
Depois de algum tempo foi morar sozinho no seu apartamento e ganhou a liberdade de ter quem quisesse. Lembro-me que admirava a minha mãe, que denominava de moderna porque aceitava a vida que ele levava enquanto sua irmã o recriminava pela vida mais livre, a qual chamava de retrógrada. Foi de sua boca que pela primeira vez ouvi essa palavra na minha infância. Acho que não acreditava muito na capacidade profissional dos sobrinhos que via crescerem e se formarem em alguma profissão e sempre perguntava para alguém:" Será que fulano sabe mesmo fazer isto?”
Por outro lado, era vaidoso e desportista. Possuía uma baleeira (um barco a remo largo com um só lugar) que ficava no Clube de Regatas Icaraí e no qual remava todos os dias. Devia ser um prazer muito grande e talvez por causa deste refúgio tenha conseguido sobreviver durante tantos anos do mesmo jeito puro e levando o trabalho de uma mesma rotina.
Falava muito de dois amigos que eram Álvaro Tato e Azurem, os quais imaginava como ele, mas não tinha (assim como não tenho até hoje) a menor idéia de como eram, mas que, com certeza, o apoiavam e acobertavam. Afinal amigo é para isso, senão como ficariam sempre na sua memória?!
Teve muitas mulheres, mas manteve sua condição de solteiro não sei por quê. Se por escolha, por contingências da vida, medo de se prender e perder a liberdade ou quem sabe algum amor secreto e não correspondido em algum lugar do passado, de sua vida que talvez não tenha sido tão fácil em vários momentos. O fato foi que assim permaneceu até o fim de sua velhice.
Não sei o que lhe aconteceu, que doença o acometeu, não sei se pela idade avançada ou outro motivo, mas ficou com as lembranças de sua juventude e perdeu a razão. O tempo ficou parado em sua mente e não poderia mais viver sozinho, indo então para uma clínica onde morreu, não sei em que condições, se feliz ou não.
Por suas características, pela filosofia de vida que adotou e pelas conversas que tinha com os sobrinhos mais velhos, não será esquecido nunca, ficando guardado sempre em algum lugar de nossas lembranças.
domingo, 8 de março de 2009
SAUDOSISMO
A infância é fase que nunca é esquecida, seja boa ou ruim, A minha foi uma maravilha.
Tínhamos um sítio no qual brincávamos ( meu irmão e eu) nas férias e era mais do que mágico, porque era real, estávamos ali e éramos de carne e osso.
Havia o canal. Obra monumental que nosso pai mandou fazer para amenizar a seca que era grande. Eram arcos enormes sobre os quais passavam as águas que eram captadas do Rio Muriaé, em Itaperuna, interior do Estado do Rio de Janeiro. Para uma criança assemelhava-se assim a algo como as pirâmides do Egito. Tinha também a Taipa que era uma árvore enorme com uma sombra bem-vinda, que ficava no terreiro ou melhor, quintal da casa, onde eram dependurados os arreios com os quais se arriavam os cavalos com que passeávamos, ou melhor criávamos verdadeiras aventuras sobre seus lombos.
Tínhamos um amigo que nos ajudava a criar histórias e aventuras com as faquinhas e revólveres esculpidos na madeira por ele: era nosso avô Ibrahim. Nossa! Que imaginação de criança numa mente privilegiada de gênio!
Quantos tombos e arranhões, quantos pés de árvores escalávamos e quantas frutas comíamos (tenho que admitir que algumas teriam melhor destino indo para o lixo!).Tinha até uma que se chamava baba-de-boi! Imagina só!!
Que prazer ver juntar os bois à tarde e pela manhã, fugir para o curral para apreciar a ordenha e beber o leite quentinho saído das tetas das vacas! E o chiqueiro, então? Que prazer pode ter uma criança de sentir aquele cheiro horroroso e ficar por ali para ver os porquinhos chafurdando-se na lama ou brincando entre eles como crianças levadas?
Corríamos a cavalo pelo pastos como se fôssemos parte dele. Éramos só um ser: eu, meu irmão, os cavalos e todo aquele pasto pelo qual voávamos com tanta satisfação. Não existia mais nada: só nós e o vento!!
Que delícia, que satisfação, quanto amor transbordante, quanta liberdade física, mental, emocional e quantas liberdades podem acontecer com os seres que se sentem assim, soltos, como uma partícula do Universo!
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