domingo, 1 de dezembro de 2013

CONFISSÕES DE TUAN

CONFISSÕES DE TUAN



   Sou natural de Itaperuna e me chamavam pelo nome de Tuan. Fui o primeiro Ramster de minha dona Liz. Depois de me adquirir, ela me deu mais três irmãos: Ozzy e Eddie, que chegaram juntos, eram muito levados, impossíveis mesmo, sendo que Eddie  era bem bravo e não deixava ninguém pegá-lo. Minha dona o escolheu porque quando ela estava na loja ele arrumou uma confusão danada quando foram pegar o balde de ração. Fugiu correu por cima dos computadores e foi difícil capturá-lo e o Ozzy era muito gordo e não gostava de se exercitar na rodinha. Mais tarde a Mini, cuja raça era originária da Síria e era um doce de bichinho, muito carinhosa mesmo! Mas não os conheci.
   Eu tive a minha gaiola, com brinquedos e outras regalias, mas não ligava muito para andar naquela rodinha na qual deveria correr, correr e não chegar a lugar nenhum, além disso eu já estava cansado, meio idoso e não tinha lá muita disposição para isso! Gostava mais de ficar no meu canto sem muitos movimentos. Fiquei um pouco doente certa vez, com um tumor na boca, então a Liz me levou, mesmo sendo proibido, na veterinária do Zoológico e ela falou que eu era muito barato e que não valia a pena me tratar. Minha dona ficou brava, muito brava e me levou em outra profissional que cuidava de canários, ela me receitou um remédio, mas não adiantou e acabei morrendo. Aí então começou todo o drama que veio a se desenrolar. E que drama!!
   Liz ficou muito triste e não deixou que meu pequeno corpo fosse jogado no lixo. O que fazer então? Ela achou a solução. Deveria me enterrar em Itaperuna, na casa da sua avó, mas estávamos em Volta Redonda, muito longe de Itaperuna! Como fazer? Mais uma vez ela achou a resposta. Colocar meu corpo no freezer e levar quando fosse lá a passeio. Foi uma revolta! Sua mãe e seu pai não deixaram. “Imagina! Colocar esse rato no freezer! Você está maluca!” Como solucionar o problemão que minha morte causou? Só tinha uma saída. Arranjar um lugar para me enterrar, mas ela morava em um apartamento! Aí decidiram o que fazer! Perto do prédio, mais especificamente perto da estrada, havia um lugar que poderia servir. Era um espaço de terra, onde era gramado e que seria o lugar ideal. E lá foi o pai, a mãe e minha dona para esse lugar tarde da noite para cavar para mim uma cova. Foi uma cena peculiar, acho que posso chamar de uma cena bizarra! Com uma picareta começaram o trabalho, passavam carros e olhavam, passou uma viatura policial e quase parou. Acho que seria meio difícil, constrangedor explicar o que estavam fazendo ali à meia noite cavando um buraco! Será que iam acreditar que aquelas pessoas estavam ali para me dar uma sepultura digna?
   O fato é que a proeza ficou na história da família e talvez hoje não exista mais nada de mim, mas fiquei muito feliz que tenham se preocupado comigo e que tenham enfrentado tantas adversidades para que eu descansasse em paz.
   Muito obrigado Liz, pelo seu empenho em me defender até o último momento em que estivemos juntos! Meu pequeno coração ficou eternamente feliz e agradecido por tudo que você me proporcionou!




domingo, 24 de novembro de 2013

FOTOGRAFIAS DE RECORDAÇÕES E EMOÇÕES







FOTOGRAFIAS DE RECORDAÇÕES E EMOÇÕES

   Deveria existir uma máquina que fotografasse recordações. A imagem sairia exatamente como estamos pensando, como estamos recordando. É muito difícil ser fiel em palavras ao nos referirmos às imagens dos nossos pensamentos,  das nossas recordações. Como ser fiel ao descrever a nossa árvore, a taipa, no quintal do nosso sítio? Como fazer outras pessoas entenderem como ficavam os arreios colocados naquele travessão na horizontal sob ela? Não dá para contar em palavras, sem imagem nossos passeios a cavalo, as nossas pescarias no rio ou no valão. Como passar o drama da travessia do valão cheio de lama nas costas do meu irmão? O aperto que passamos com o meu avô o mandando atravessar me carregando, as caras assustadas dele com medo de não conseguir e a minha de cair naquele lamaçal? E o burro que se chamava Brinquedo? Quando empacava com o meu irmão montado e o meu avô Ibrahim o espetando para que andasse, mas ele só empinava! Como eu me assustava com medo dele derrubar o meu irmão! Não. Não dá para imaginar quem não estava lá. Onde está a foto deste momento?
   Como descrever a cor do cachorro que se chamava Sultão e como mostrar o pavor que ele tinha de pedras e a ira com que enfrentava um cabo de vassoura? E a vaca que correu atrás de mim? Eu, saída de uma doença, que não lembro o que era (acho que gripe), verde de tanto tomar chá de uma erva chamada Macaé, fui ver meu avô e meu irmão tocar umas vacas. Fiquei na porteira, quando uma delas olhou muito feio para mim e avançou. Corri, corri, corri muito, até chegar a casa. Onde está a foto dessa recordação, do medo que passei e da certeza que a vaca estava realmente atrás de mim?
   Alguém vai entender quando eu contar que tinham dois copos lá no sítio, um vermelho e outro amarelo, com cheiro de leite e que eram exatamente da cor de duas camisas que a minha mãe tinha? Onde está registrado?
   As nossas escapadas de casa, deixando nossos pais dormindo, para irmos ao curral cedinho para vermos tirar leite, o chiqueiro que ficava perto da tulha, onde nosso pai guardava os sacos de arroz colhido e sobre os quais brincávamos de escalar, o terreiro de pedra (que era de cimento), onde se secava o arroz e onde brincávamos quando estava vazio, os espanta-camarada, que é um espinho em pendão que jogávamos nas costas um do outro... Quem consegue saber exatamente como era a não ser eu e meu irmão? Mas... se tivesse uma máquina de fotografar recordações...
   A nossa viagem para o sítio, a emoção de ficar esperando o ônibus e depois a caminhada de 3 km para chegarmos até a nossa casa. O prazer de cortar caminho pelo pasto e sermos atacados por quero-queros. A magia de parar para beber água na casa de Dona Anita, que era uma mulher tão pequenina e que morava com seu marido seu Manoel, numa casa tão pequenininha com um chão de terra batida, mas que brilhava tanto que parecia casa de boneca. Quem poderia registrar minha sede constante ao passar por ali e beber aquela água embaçada, mas que para mim era uma delícia. Onde está a expressão de aborrecimento da minha mãe que aparecia sempre que eu atrasava a volta para pegar o ônibus? E o prazer de ser carregada no pescoço do meu pai no trajeto do sítio para a estrada quando me cansava?
   Quem poderá saber hoje como era o apito do trem que passava do outro lado do rio ao entardecer e que me dava uma sensação de tristeza, que eu não entendia o que era? Como mostrar a cena engraçada que era quando comíamos as traíras pescadas pelo meu avô e que engasgávamos com as espinhas e que minha mãe mandava comer angu? Come angu...Come angu...
   São muitas lembranças, incontáveis lembranças, tão vivas para nós que as vivemos, mas sem significado ou emoção para quem as lê ou ouve.
    Mas... se tivesse uma máquina de fotografar recordações...



   

TIA MARIA







TIA MARIA
  
  Maria Betão tornou-se uma lenda em Itaperuna. Educadora, batalhadora, dona de uma escola de sucesso e que é respeitada até hoje. Por que Maria Betão? Na família Boechat tinham muitas Marias então para denominá-las usavam-se os nomes dos pais, então era Maria do Betão, Maria do Joque etc. Ficou o nome e muitas pessoas até hoje acham que é seu nome próprio. Corria um boato, e eu acho que muita gente ainda pensa assim, que ela havia ficado paraplégica, pois tinha feito regime para emagrecer. Mas não. Ela foi acometida por um vírus na sua coluna e apesar de tratar, não teve jeito. Era uma mulher vaidosa, bonita. E antes de ficar doente, morava em Niterói, onde estudou, se vestia muito bem, só usava salto alto e se divertia muito! Depois que surgiu sua deficiência, houve necessidade de algumas adaptações assim que voltou a morar em Itaperuna. Precisava de uma pessoa boa, honesta e dedicada que a ajudasse, então caiu do céu a Regina, guardiã de todas as horas. Mais, muito mais! Foi sua amiga, sua filha, sua protetora. Foi fiel até o fim. Foi quem acolheu suas alegrias, tristezas, decepções, raivas, e todos os tipos de sentimentos. Tia Maria não seria tia Maria sem a Regina. Muitos anos depois chegou a Claudiane, sobrinha da Regina e que manteve junto com a tia a dedicação à Maria Betão.
    Essa era a mulher chamada Maria. Mas essa não é a minha tia Maria. A minha tia Maria fez parte da minha vida desde que nasci. Era minha tia avó e minha madrinha. Quando, bem pequena, estava aprendendo a rezar a Ave–Maria, a minha mãe mandava que eu repetisse: “Ave Maria, cheia de graças...”, mas eu só repetia: “Tia Maria...”
   Passei por vários sentimentos em relação a ela. Primeiramente era uma tia muito engraçada, que toda vez que ia à sua casa ela me falava: “Tudo bem, muito bem? Veio a pé ou veio de trem?” Achava o máximo, mas detestava quando me deixava marca de batom vermelho nas minhas bochechas. Depois que cresci um pouco e fui estudar no colégio “Externato Duque de Caxias” os meus sentimentos se confundiam entre respeito e medo. Ela era brava e eu me encontrava com ela fora da escola, então eu achava que aquela disciplina do colégio deveria se estender para os momentos de lazer. Quando fui para o C.E. 10 de Maio, já com 10 anos, novamente mudou meu jeito de me relacionar. Aí ficou só o respeito, o medo se foi. Conversávamos, mas eu era criança, então meu relacionamento não era estreito. Chegou a época de sair de Itaperuna para estudar fora. Fui para Petrópolis e quando entrei para a faculdade de Psicologia nosso relacionamento se estreitou um pouco mais e conversávamos bastante. Voltando para a cidade 17 anos depois ficamos amigas. Sempre passava em sua casa e era sempre muito agradável conversar com a minha tia. Conversávamos coisas sérias, fazíamos um pouco de fofoca, brincávamos uma com a outra. Quando fui trabalhar com a inclusão da pessoa com deficiência na escola regular, não pude mais dividir com ela meus sucessos e meus fracassos em relação ao tema, pois ela já tinha sofrido um AVC e não conseguia se expressar direito e talvez não estendesse o que falávamos. Senti muita falta disso. Queria muito ter podido conversar com ela sobre o tema e como vínhamos desenvolvendo o trabalho. Sua escola foi a primeira, que tenho conhecimento, que aceitou em seu quadro de alunos crianças com deficiência. Foi a primeira escola inclusiva de Itaperuna. E isso quando nem se pensava em inclusão!
   Apesar de ser rígida em relação à escola, de dar importância enorme à disciplina, a minha tia era uma mulher afetuosa, moderna, que aceitava certos comportamentos e atitudes dos jovens. Era generosa. Muitos alunos estudaram sem pagar o colégio e nunca foram cobrados por isso. Acolheu muitas pessoas em sua casa e ajudou a todas sem distinção. Para a família era ponto de referência a quem todos prestavam deferência, a quem todos tinham respeito. Era, por assim dizer a matriarca, a chefe da família.

   Faz muita falta para todos nós o seu apoio e a certeza que sempre estaria ali quando precisássemos, mas com certeza nunca será esquecida por quem a conheceu e que teve o privilégio de participar de sua vida.



                                                                    

                                                        Tia Maria e eu

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

HERANÇAS DE MEU PAI







HERANÇAS DE MEU PAI

   Meu pai me deixou muitas heranças. Considero-as todas e de uma forma muito carinhosa.
  Ele deixou uma casa para todos nós que procuro conservar e melhorar para nosso conforto, mas também em memória a ele que a conseguiu com esforço e com orgulho. Deixou também sua coleção de revista “Globo Rural”. Mas para mim, exclusivamente ele deixou mais algumas coisas.
    Tem velório de alguma pessoa conhecida?  Eu vou!  Fiquei também responsável pelo túmulo da família. Compro a tinta, procuro um pedreiro e mando pintar na época de Finados. Tem recadastramento de túmulos? Eu faço. Parece macabro? Não é!  É engraçado! Brinco dizendo que são heranças que meu pai deixou para mim. Tem muitas outras, como o interesse pela política,a necessidade de  afastar os copos ou garrafas das beiradas das mesas, para não derrubar, comer torradas queimadas, gostar de pimenta e limão, comer o que for colocado à mesa, tentar não ficar com raiva das pessoas, gostar de crianças, gostar de conversar com diferentes pessoas, a vontade de estar sempre pronta para ajudar a quem solicitar, dar prioridades a coisas que não sejam materiais, entender que “cada um com a sua sorte” não sendo necessário invejar quem tem mais...
   Meu pai também deixou sua moral reta. Seu caráter firme e honesto. A certeza de que as pessoas devem ser respeitadas, a disponibilidade afetiva, o coração sempre pronto ao carinho, a leveza com que via e vivia a vida, a alegria sempre presente, a adaptação a todas as situações que lhe eram apresentadas, a adequação ao viver. Desejo fazer a minha vida tão leve, apesar de alguns fardos que carregou, como ele fez a dele. Desejo sempre sua alegria e de seu bem estar perante o viver. Essas heranças ainda tento que sejam minhas também, mas nem mesmo sei se posso consegui-las integralmente. Eram propriedades dele, exclusivamente dele. Dando sorte, talvez, à medida que passem os anos, possa conseguir algumas delas e averbá-las ao meu acervo.

Desejo conseguir que essa herança chegue a mim. Quero ser como ele quando crescer!





sábado, 24 de agosto de 2013

DOCES COMUNISTAS

DOCES COMUNISTAS

   A família Hamam tem a crença de que é política e sempre acreditou que era da “esquerda”. Conta a lenda que alguns parentes do meu pai, lá no Líbano, eram tantas vezes presos por serem contra o governo atuante, que não desfaziam a malinha que levavam para a prisão. Não sei se é verdade, mas dá a dimensão histórica do compromisso da família com a política.  
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    Como todos os meus tios já nasceram aqui no Brasil, eles só conheciam a lenda e de um modo ou de outro se colocaram em contato com a política. Eram Comunistas! Sendo comunistas lutaram contra a ditadura. Meu tio Demétrio era atuante e foi até deputado. Foi preso durante a ditadura de Getúlio Vargas, indo para um navio em auto-mar, foi amigo de Graciliano Ramos e de muitos outros intelectuais comunistas. Meu pai lutou a favor do Petróleo, fez parte da campanha ” O PETRÓLEO É NOSSO”, foi também preso por causa disso e sorte a dele o irmão Uady (que não se envolvia com a política) ser da Secretaria de Segurança e livrá-lo algumas vezes.
    E assim crescemos: Meus primos que eram mais velhos se envolveram também na época da ditadura militar. Meu primo estudava em Ouro Preto e foi preso por causa de sua ideologia, como muitos estudantes. Minha prima, sua irmã, fugiu uma vez do Rio para Itaperuna, para se livrar da perseguição. Eu era criança e achei o máximo! Eu, quando comecei a entender certas coisas, também me encantei, talvez pela influência de meu pai, com o qual conversava muito e era o meu herói.
    Todos comunistas, todos de esquerda! Será? Eram sim. Comunistas que lutavam pela liberdade! Liberdade comunista? Lutavam pelo idealismo! Isso! Idealismo. Assim eram meus tios, meu pai, meus primos! Assim pensei que eu fosse! Mas como comunistas? Doces, inocentes e puros na sua crença! Não existem mais e acho que nunca existiram como eles. Meu pai dizia; “- Os fins justificam os meios”. Grande máxima comunista!  Nada! Não achava isso de jeito nenhum! Repito: Doce, ético... Assim como meus primos!  Acreditavam em um mundo melhor, com mais igualdade, sem discrepâncias sociais, imagem romântica que todos tínhamos do comunismo ou do que se pensava ser o comunismo.

    Doces comunistas românticos! Assim eram eles! Assim éramos nós!





segunda-feira, 19 de agosto de 2013

FIGURAS FOLCLÓRICAS




FIGURAS FOLCLÓRICAS

   Em Itaperuna existiam algumas figuras folclóricas e salvo poucas exceções eu tinha medo de todas. Algumas eram reais e uma foi criada pelo meu imaginário.


                                                                                                             

   As reais eram o Lampião, um negro que me parecia bem idoso, e que corria atrás das crianças com um porrete que fazia de bengala, o Enguiça que ficava no ponto de ônibus da papelaria Ita Gráfica e que ameaçava os alunos pequenos que esperavam o ônibus ali. Tinha também o Amigo, de quem eu não tinha medo, e que gostava de conversar e falava que ia casar depois da colheita. A Porca Ruça era uma mulher muito branca, sarará e sujíssima. A Jacaré que não era muito assustadora, mas corria atrás de nós sempre que a chamávamos pelo apelido. A mais famosa sempre foi a Maria, que não punha medo em ninguém, mas que várias gerações conheceram. Maria foi dessas pessoas que para no tempo em matéria de idade. Sempre foi do jeito que conheci. Nunca mudou.

   Mas de todos, o que mais me apavorava, era a personagem que eu tinha criado na minha imaginação. Era a Cabeluda. Eu a imaginava um monstro horroroso, cheia de cabelos por todo o corpo e rosto.          
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   A história começou com um comentário de meu avô. Eu estava chorando, provavelmente fazendo uma bela manha, e olhava para a casa da vizinha, que tinha um buraco na parede, coberto por uma tábua, um pouco acima do chão. Meu avô falou: “-Mas que cabeluda!” (a manha). Parei de chorar no mesmo instante imaginando que naquele buraco houvesse esse monstro que imaginei no momento do comentário. Foi o bastante! Exploraram meu medo. Meu avô arranjou uma casa para o monstro! Era um alicerce de uma casa começada que ficava na subida do caminho que vinha do centro da cidade para nossa casa. Algumas pessoas às vezes ficavam morando ali em baixo, pois era um alicerce bem alto. Alguns anos depois abrigou até uma oficina de bicicleta. Eu não passava ali tranquila! Nunca via o monstro, mas com certeza ele morava ali. Fiquei muitos anos com medo da cabeluda! Não sei quando entendi que ela não existia de fato, mas sempre desconfiei daquele lugar escondido que durante muitos anos existiu  naquela subidinha!

                                                                  



domingo, 18 de agosto de 2013

AJANTARADO




AJANTARADO

   Quem sabe o que é ajantarado? Lá em casa tinha ajantarado aos domingos.
   Ajantarado é uma refeição feita mais tarde que o almoço e mais cedo que o jantar aos fins de semana, para diminuir o trabalho na cozinha.
   Aos domingos acordávamos mais tarde, algumas pessoas da casa iam à missa e sempre tínhamos para o almoço frango ensopado. Para nós, as crianças, tinha um significado importante. Domingo é dia de ajantarado, que pronunciávamos “jantarado”. Era dia de às vezes, muito às vezes, tomarmos refrigerantes. Uma Grapette. Cada garrafa pequena vinha com uma tampinha,que tínhamos que tirar com abridor de garrafas, e que deveríamos juntar para formar a tal frase de “Quem bebe Grapette, repete”, já que cada uma vinha com uma palavra. Ou um Crush, que era um refrigerante com sabor super artificial de laranja. Às vezes era só Q-Suco, que escolhíamos pela cor, já que os sabores não eram muito diferentes!
   Meu avô Ibrahim, que morava conosco, gostava de almoçar e jantar cedo, mas só durante a semana. Domingo ele respeitava o ajantarado e à noite não tinha jantar, só um lanche. Que farra não jantar e sim lanchar! Era a total quebra de rotina! Adorávamos! Era sagrado. Nada de jantar!!
   Não lembro o que lanchávamos. Acho que talvez pão com manteiga, ou um queijinho. Não ficou na minha memória. Mas os dias de almoço tarde, o frango ensopado e o fato de ouvirmos: hoje é ajantarado e a importância que era, estão vivas na minha memória. E até hoje guardamos o hábito do almoço de domingo ser mais tarde, mais elaborado, mais festivo! Continuamos com o nosso “jantarado”!

    



LORRAINE






LORRAINE

   Lô, minha pequena Lô, tão intensa, tão presente, e tão maravilhosa. Marca sua passagem com tantas palavras, tantos gestos e inúmeras opiniões, certas ou erradas, inacreditáveis às vezes, mas opiniões, expressas de forma positiva, de forma segura. Um meteoro de sentimentos, uma luz que explode por onde passa. Tantas coisas para falar, tantos pensamentos para expressar...
   Inacreditável que o tempo tenha passado tão rápido e aquela pequena criança, tão viva, tão sapeca, e tão pirracenta tenha se transformado em uma mulher, mas que ainda busca, procura, como lá atrás fazia, um sentido para tudo, uma felicidade que de  tão grande, não existe em tempo real.
   Lorraine á assim: meteoro, furacão, rapidez em pessoa. O coração? Enorme!! Tão grande que às vezes transborda de tanto sentimento, tanta vontade de agradar e de amar e então, muitas pessoas não entendem as atitudes, as opiniões e o descarrilamento de palavras. Coração que além de querer amar, quer ser amada, respeitada e acarinhada.
   A pequena Lô não deve querer ser diferente nos seus sentimentos, mas pode ser mais poderosa em relação à procura de brechas no seu caminho. Achar sua independência, trilhar uma estrada só sua. Sair da estrada alheia e buscar o mundo pela sua própria luz, que é tão grande!
   Linda a minha pequena Lô! Uma mistura de mulher independente com criança carente. Gosta tanto de gostar, que se perde nesse gostar, transborda no seu amor, na sua vontade de agradar.
   Vi nascer, vi crescer, mas será que ainda é a minha pequena Lô? Será que ainda consigo adivinhar suas alegrias e suas tristezas? Acho que sim. Seu grande coração não mudou, só cresceu mais ainda, acolhendo tantas pessoas que já passaram,  as que ainda estão na sua vida e que com certeza acolherá ainda muitas outras que chegarão!
   Prossiga minha Lorraine, prossiga na sua vida que ainda tem tantos caminhos a serem percorridos! Seja sempre verdadeira e que o meteoro que te acompanha não se apague jamais! Brinde a vida com essa energia e calor! Seja feliz, seja amada!